Eu ainda estava atônita diante daquele quadro que mais parecia a lembrança que eu havia tido minutos antes. Era eu, só podia ser eu! Mas quem mais sabia de mim no campo dos girassóis?
Era como se minha infância feliz tivesse voltado com a chegada daquele quadro. Tudo de maravilhoso que um dia eu vivi estava ali, naquele quadro, no meu local assombrado.
Olhei ao meu redor, em busca de algum resquício, de alguma pista sobre quem havia posto o quadro no quarto. Quando me aproximei do quadro pude sentir o cheiro da colônia do homem misterioso que surgiu no meu andar. Aquele cheiro me levou novamente para a minha lembrança no campo dos girassóis.
E novamente eu corria pelo campo, mas dessa vez eu tinha um objetivo, buscava por alguma coisa, eu sentia um cheiro forte de outra flor entre tantos girassóis. E corria em busca desse cheiro, de onde ele viria? Deparei-me novamente com a silueta do homem descansando sobre o campo, era dele que vinha o cheiro, era dele que exalava o cheiro de flor, eu havia encontrado o que procurava.
Era ele, o invasor da noite passada, o homem do guardanapo, ele estava na minha memória. E ele esteve aqui há pouco.
Saí do quarto depressa “talvez ele ainda esteja pelos corredores”, pensei. Corria por entre os corredores escuros e inóspitos, a cada alma que perambulava pelos corredores perguntava se haviam visto um homem caminhando com um quadro.
Quando cheguei à escada que me levaria ao segundo andar avisto o homem que procurava. Lá estava ele! Gritei “Espere um momento!”, na tentativa de conseguir alcançá-lo. Ele não parou, talvez não pudesse me ouvir. A subida de algumas dançarinas pela escada impediu que eu andasse em direção ao homem e na tentativa de me desvencilhar daquela confusão que se fez na escada, eu o perdi de vista.
Um buraco de desapontamento se abriu sob meus pés. Eu buscava agora uma tentativa de entender o quebra-cabeça do meu passado, aquele homem estivera lá, eu o vi, não podia ser uma alucinação. Ele pintou o meu passado.
Voltei como se arrastasse um véu de desesperança. Ao chegar novamente no quarto do piano, fui contemplar mais uma vez a minha janela para o passado. Reparei que no canto da pintura havia assinada em preto as iniciais V. S.
Agora o quarto do piano ganhou vida para mim e tudo adquiriu cores.
Fui tocar o piano, a música que eu toquei para ele na noite passada. Talvez assim ele ouvisse, e se atrevesse a subir até lá novamente.
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